quarta-feira, dezembro 17, 2008

A Filosofia da Couve

Quantos de nós, nascidos e criados nos subúrbios lisboetas e deambulando por esse país fora, em grandes e pequenas cidades, vilas e lugarejos, nunca parámos 10 minutos a olhar para as casas que compõem esse aglomerados populacionais? Surgem de todos os estilos e feitios, desde o bloco paralelepipédico com janelas e persianas brancas à grande casa de três andares construída pelo imigrante canadiano e que de volta à terra, ao Casal Domingos João, mostra aos seus conterrâneos o seu sucesso na construção civil estrangeira. Mas não estou aqui hoje para debater arquitectura… já alguém o fez. Até as casas de imigrantes dos anos 70, as ditas “casas-de-banho” viradas do avesso, devido aos seus excelsos azulejos decorativos, têm um lugar nos movimentos arquitectónicos contemporâneos. O que vos peço que memorizem da próxima vez que viajarem por esse país, desde o Algueirão a Braga, são os pequenos jardins que, tradicionalmente se encontram ao lado, ou mais comummente, à frente dessas mesmas casas. A maioria com poucos metros quadrados, apresentam indiscutivelmente alguns canteiros separados por aquele caminho forrado a desperdício de mármore, provavelmente oriundo de uma qualquer pedreira no termo de Estremoz. Esses mesmos canteiros preenchem os desejos de jardinagem de qualquer dona de casa nos quais o ranking de espécies é ocupado necessária, quando não exclusivamente, por uma roseira cor-de-rosa ou branca, uma cameleira vermelha e, em casos de absoluta excentricidade alguns gladíolos.

Peço-vos no entanto que desviem a vossa atenção alguns centímetros para o outro canteiro, menos perceptível ao olho não treinado. A par do magnífico jardim aparece indiscutivelmente a pseudo-horta onde variam as espécies conforme os meses do ano, alternando entre os cheirinhos, tomates, pimentos e a eterna malagueta. Todavia, tal plantação não sobreviveria sem o talo desgastado da couve tronchuda, com tenrinhas folhas a brotarem do topo do seu metro de altura onde, ao longo do ano foram sendo retiradas as primeiras, qual palmeira em Sunset Boulevard. É uma verdade incontestável e facilmente comprovada, basta olharem em redor. A couve tronchuda é uma presença assídua de qualquer jardim que se preze em Portugal, tão valiosa e importante como a roseira. Mas qual a razão para que tal espécie se tenha tornado um dos mais belos emblemas decorativos do verde que embelezam as casas portuguesas? De certeza que várias teorias existem em torno desta problemática… a mim só me ocorre relacionar a sua presença directamente com o pessimismo do povo português. Não é uma novidade que somos o povo europeu que mais desconfia dos vizinhos e que menos acredita nas pessoas que nos rodeiam. O amanhã é sempre uma incógnita e tudo o que os outros fazem é sempre melhor que o realizado pelas gentes deste país. Quem não acreditar em mim leia o livro do Fernando Gil. Ainda que com algumas incongruências, deram o Prémio Pessoa ao senhor… os 50 mil euros à parte, é porque deve desenvolver umas ideias com piada. Desta forma, conseguimos claramente penetrar na mente de quem ali plantou aquela beleza ornamental, criando um mirabolante arranjo cénico: “Pode não haver mais nada, mas há sempre umas folhinhas para um caldinho”

O presente texto é apenas a introdução da teoria filosófica que desenvolvemos. Não quisemos sobrecarregar os leitores com o desenvolvimento de todas as receitas de sopa e migas que se podem fazer com recurso às folhas de uma couve tronchuda. Igualmente, os relatos orais de quem as possui nos seus canteiros foram deixados de parte bem como as histórias de como as mães e avós daquelas pessoas mataram a fome à família com recurso às couves plantadas no quintal. Esta herança vegetalista encontra-se documentada e poderá ir à estampa em breve, retratando o quotidiano de diversas casas e a forma como a couve influencia os comportamentos sociais e culturais de milhares de pessoas neste país.


A pedido da minha amiga Diana, a criadora do Fumos e Chás, que ainda acredita no absurdo dos meus raciocínios.
by Tânia Casimiro


Ficará para mais tarde a minha dissertação a partir desta mote, qual absurdo pensamento qual quê, este, encaixa nos meus absurdos pensamentos que vou atirando para este mundo virtual. Roça a genialidade e a perspicácia de quem passa a vida a olhar para pormenores que alteram pensamentos e correntes.
by Diana

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Fado

Deolinda - Canção do Lado

Desculpem todos os homens estudantes,
espíritos poetas, almas delicadas.
A falsidade do meu génio e das minhas palavras.
E é daí a lição que eu canto,
cada vida um espanto que é do bela graça,
mas eu só ambiciono arte de plantar batatas.

-Desculpem lá qualquer coisinha
mas não está cá quem canta o fado.
Se era pra ouvir a Deolinda,
entraram no sítio errado.
Nós estamos numa casa ali ao lado.
Andamos todos uma casa ao nosso lado.

Bem sei que há trolhas escritores,
de trato estucadores e serventes poetas;
e poetas que são verdadeiros pedreiros das letras.
E canta em arte genuína o pescador humilde,
a varina modesta;
e tanta vedeta devia dedicar-se à pesca.

[Refrão]

Por não fazer o que mais gosto
eu canto com desgosto, farto de aqui estar;
e algures sei que alguém mal disposto
ocupa o meu lugar.
Ninguém está bem com o que tem...
é sempre o que vem que nos vai valer;
porém quase sempre esse alguém não é quem deve ser.

[Refrão]

E é a mudar que vos proponho!
Não é um posso medonho em negras utopias;
é tão simples como mudarem de posto na telefonia.
Proponho que troquem convosco e acertem com a vida!


Epah, eu até nem gosto de fado, não faz bem o meu estilo gritar a saudade e chamar por D. Sebastião, mas até umas coisas giras, se for daquele animado e corridinho, que canta a desgraça na tasca com o copo de vinho á frente. A meu ver, é melhor piscar o olho á desgraça dar uma risada, e passar-lhe uma rasteira e até á próxima queda. Porque sou portuguesa, e penso que vou cair outra vez. Mas sei que também me posso levantar. Mas filosofias á parte, estes tipos fizeram uma coisa muito boa. As letras, bom, podia posta-las todas no blog, valem a pena, sem serem fúteis e vazias, e muito menos melancólicas, não perdem o sentido de critica, mas sempre com um ar de gozo, que me faz pensar que quem escreveu as letras se riu tanto como eu a lê-las. E a musica, um verdadeiro upgrade ao fado, com influencias de musica popular portuguesa, a dita de baile ou mesmo ao género das tunas universitárias, juntamente com uma mistura de quase tudo, desde o jazz, blues e muito mais. Quase nem se dá pelo fado não fosse a bela voz entoando em tom de fado, desculpem lá a redundância. Sendo musica bem portuguesa, nota-se bem influencia das musicas do mundo (até mesmo para uma analfabruta musical como eu), sem nos fazer chorar, faz-nos pensar. Agrada ao erudito, ao mais comum dos homens, a jovens e antigos. E tem a grande vantagem de ser cantada em português. Não investiguei muito sobre eles pelas letras deduzo que algum é de Lisboa pelas várias referências, até porque têm letras com referências que qualquer pessoa de sorri e reconhece, têm uma musica que se chama mesmo, "Lisboa não é a cidade perfeita", e em outra têm esta saida genial: "
Mas a música erudita\não faz grande efeito em mim:\do CCB, gosto da vista;\da Gulbenkian, o jardim.".


Quanto ao bolt da letra desta musica: tinha muito para sublinhar nela, podia até analisa-la no todo, mas esta parte dedico aos meus colegas irmãos que se vão rir tanto com ela como eu:
"E é daí a lição que eu canto,\cada vida um espanto que é do bela graça,\mas eu só ambiciono arte de plantar batatas." Essa toca-nos a todos, aliás toda a letra é bem próxima. Até porque a letra aplicavél ao restante mundo: "Andamos todos uma casa ao nosso lado.\E é a mudar que vos proponho!" . E querem que vos doa ainda mais?! - "Por não fazer o que mais gosto\eu canto com desgosto, farto de aqui estar;\e algures sei que alguém mal disposto\ocupa o meu lugar." - Soa-vos a familiar? Como eu disse isto aplica-se ao mundo, mas eu sei de uns quantos nós...Muitos universitários conhecem isto....quantos de vós se meteram no curso com paixão?! Sim, está bem, o pai diz que isso não dá emprego, mas mesmo que só dê trabalho - "só ambiciono arte de plantar batatas." - respondes tu...Reconhecem a conversa?

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Caos

Kandinsky,Small Pleasures.

Mas que raio é o caos? Diz que é mais ou menos daquelas coisas que dizem que é mau. Diz que é melhor tudo organizadinho, tipo sala de bloco operatório. Podemos fazer listas, organizar pensamentos, pôr os sentimentos arrumadinhos (até porque o coração até tem 4 espacinhos diferentes!), arrumar os livros por ordem alfabética em prateleiras numeradas. Diz que é melhor.
Realmente que interesse poderá ter o caos? Mas onde estão as coisinhas arrumadas?
Deixa lá ver, as cidades são um caos, e os subúrbios além de cinzentos, normalmente até as florestas são desorganizadas, não estou a ver as árvores a organizarem-se por fileiras ou sindicatos...A e tal e o Estado e as leis são organizadas?! Por números porque depois é uma confusão que ninguém entende, até porque pouca gente consegue realmente ler e perceber o que lá está. E o pensamento? Completamente desorganizado e incontrolável e impulsivo, ás é tão impulsivo que nem a boca controla, depois saem aquelas tiradas de "génio" que basicamente são pensamentos vocalizados que não era suposto. Não vou falar de sentimentos que isso é coisa sem qualquer arrumação possível, do género, tentem lá organizar um fardo de palha?!...
Um pensamento: se pensam que a vossa vida está um caos não desanimem, é igual e em conformidade com tudo o resto. E depois há sempre a bónus das surpresas.

segunda-feira, dezembro 01, 2008

Algumas considerações

Hoje é dia da restauração da Independência, e não fosse isso e hoje éramos castelhanos, ou melhor dizendo, portugueses do Reino Espanhol. Há muitos que têm saudade dessas lutas excitantes pela liberdade, há quem diga que não somos livres mesmo. Hoje foi o ultimo dia do congresso do partido comunista.
Tinham uns cartazes bonitos que diziam qualquer coisa como: Por Abril, Pelo Socialismo!. E lá falou a respeitosa senhora Odete Santos, mulher de grande coragem, exclamando com todos os seus pulmões: Somos muitos mil para fazer o Abril!. Delegações comunistas de todos os cantos mundo (e há que sublinhar a organização destes camaradas) imagino interessadíssimos pelo passado da história politica...Lá estava também uma delegação de Cuba, que entregou ao mais digno operário do partido, uma foto dos irmãos Castro, que este, sem medos, exibiu com bom gosto.
Lá estiveram também membros doutros partidos portugueses, os da oposição, quase sempre concordando com as criticas ao governo, e, os do governo reclamando de falta de colaboração, aliás o mesmo foi reclamado pelo o outro mais conhecido partido de esquerda.
Mas lá estiveram muitos outros mil camaradas, chorando pelo Álvaro Cunhal, gritando por Abril e erguendo o punho direito com muita força. As imagens televisivas mostram caras saudosistas, sejam eles senhores que viveram a revolução ou jovens camaradas esperando pelo seu momento de rebelião.
Não quero ser cruel, e desprezar a luta pelos fracos e oprimidos sempre protagonizada por eles, ou ofender os meus amigos camaradas, são todos uns queridos. Mas, sei lá, a cassete do Abril ainda não passou? E note-se, CASSETE, coisa que já ninguém usa. Sim, o.k. O mundo é capaz de estar a precisar de uma revoluçãozita, e obviamente não falo de 6 meses de ditadura defendida por uma outra senhora num dia muito infeliz...Mas sei lá, e olhar para o futuro? O Abril lá vai, e nós por cá andamos. Amigos, isso soa um pouco, como hei-de dizer, a trauma de veterano de guerra?! Pensar no Abril já está um pouco fora...
E já agora, se andamos todos atrás da liberdade, não é no mínimo ridículo, ver o cabeça do partido segurar com um sorriso quase de orgulho, a foto dos irmãos Castro? Não acredito que a maior parte dos comunistas ache isso normal, ou que ache que aquela ditadura é desculpável só porque são camaradas e contra os EUA, e acreditem eu não gosto de Americanos.
Acho muito bem algumas das ideias que defendem, louvo o esforço que fazem e era bom que muito mais fossem tão organizados e convictos como o PCP, mas vá lá... Ultrapassem o trauma do 25 de Abril, deixem o Álvaro Cunhal descansar o mais que merecido sono dos justos porque foi um grande homem, e não fechem os olhos aos camaradas perversos....São capaz de ganhar mais adeptos....Olhar para o passado é importante, e garanto-vos, passo grande parte do tempo a faze-lo ou não estudasse eu arqueologia. Mas o mundo não pára. E sim, é possível, como disse o Gerónimo de Sousa, é possível andarem para a frente.

segunda-feira, novembro 24, 2008

Escuro...

Consegues ouvir o som do breu?
Sentes o cheiro da noite, o suor das estrelas? As lágrimas da Lua, caem e molham-nos os olhos, talvez por compaixão...As paredes húmidas das casas, á noite, os silêncios ensurdecedores, os ecos da meia-noite escondem os gritos da liberdade, os cânticos dos nocturnos que anseiam por se libertarem, pesadas correntes que nos prendem sabe-se lá ao quê, não nos deixam mover. O que a noite esconde? O que a noite revela...Os gatos pardos, feios e magros, ou as camuflagens exuberantes que exibem muito mais do que valem. A noite. A noite...Os fumos tapam os cheiros suaves da maresia, entorpecem as mentes, pouco sóbrias, e o álcool, que desinfecta as feridas, o pelo menos escondem-nas por momentos. E o quando o sol surge? Diz que aparece para todos...que aquece todos...Mas quantos se escondem á sua presença? A luz que tudo quer mostrar, a nu, sem vergonhas. Mas não, quando surge o sol, escondem-se nas tocas, fogem da sua luz que tudo revela, escondem-se no escuro, tapam as caras, e os corpos caprichosamente marcados pela vida. Desejam a noite, querem-na, vestem a sua capa porque é mais do que uma farda. Encolhem-se ao toque quente da luz, com medo, cobardia talvez, mas apelam que a noite volte, e que os liberte. Até os arrepios do frio parecem mais confortáveis, o calor amolece os corpos e o frio acorda-nos para uma vida muito mais além....á noite somos nós sem o ser, á noite não somos almas penadas, á noite somos todos iguais...

quarta-feira, novembro 19, 2008

Pôr-do-sol


É daquele tom alaranjado, tórrido, quente, até mesmo no frio gélido do Inverno. É uma mistura de melancolia, cheia de cor, com tons de alegria, que nos desperta o olhar e uma mistura de sentimentos. Surge em todo lado, para os pretos e brancos e beges e amarelos e vermelhos, em todos os continentes, para todos os olhos. É importante para todas as crenças e religiões, é romântico em qualquer parte do mundo, inspirador para artistas e aspirantes, e mesmo que nem todos possamos ver as suas cores todos podemos sentir o seu calor. Surge em cenários de paz, guerra e mistos, nos subúrbios, nas barracas, nos condomínios, nas serras, no litoral, na aldeia, em Nova York e em Bagdad, em Lisboa e no Porto, e ninguém fica indiferente. Foi visto na pré-história, na proto-história, pelos romanos e pelos bárbaros, nas dark-ages, nos iluminados descobrimentos, durante as guerras e as chaminés que começavam a deitar fumo tapando a sua luz, e no 11 de Setembro também houve pôr-do-sol, e nos dias seguintes e nos outros…Muitos ignoraram o pôr-do-sol do dia de hoje, muitos outros o viram, mas é uma presença constante, ao longo dos tempos e espaços, e é das poucas coisas, que ainda podemos partilhar, todos, sem distinção, e que ninguém fica indiferente, um verdadeiro bem comum.
Ver a simplicidade do pôr-do-sol, e admira-lo, pela sua presença sempre constante e pacifica, e eventualmente aprender com ele, não dói. Apesar de se assemelhar com um Deus, penso que não vai atirar um raio destruir e punir as pessoas pelos seus pecados…Geralmente prefere aquecer almas…

segunda-feira, novembro 17, 2008

Amanhã

Amanhã. Amanhã vou mudar o mundo.
Amanhã vai haver tempo para fazer coisas. Para mudar. Para estudar, e ver o nascer do sol, e ver-se a pôr também. Ver o mar, e o rio, e os lagos se os houver. Amanhã vai-se corrigir aquele erro. Amanhã vai-se pedir desculpa. Mudar o penteado, e telefonar aquela pessoa que não se vê há séculos. Amanhã vou ser eu, vais ser tu, vamos ser reais, simplesmente, livres das algemas sociais. Amanhã vai-se ajudar alguém, e concertar aquela coisa que está estragada há que tempos. Amanhã vai haver paciência. E visitar as alminhas ao cemitério. Ler aquele ler livro que Aquela pessoa te deu e eu nunca houve tempo para ler, é poesia. Vai haver vontade para ir a um ginásio, e escrever e desenhar. Ir ao cinema, e fazer tudo aquilo que foi adiado. Amanhã finalmente vai haver coragem. Amanhã pode-se dizer “Amo-te”…
Amanhã. E amanhã. Amanhã parece fácil. Porque amanhã, dizem eles, há-de ser melhor. Mas hoje, é amanhã. E hoje, é duro. Hoje dói. Hoje não, nem há força para caminhar, quanto mais mudar. Hoje, hoje vai-se pensar no amanhã. E amanhã, amanhã já passou, e hoje, hoje está tudo igual. Como sempre…
Mas nem só de pão vive o Homem, dizem eles, vive da fé, talvez na fé do amanhã ser melhor. Mas hoje, está igual, e está mal. E depois? Cais…no chão, e levantas-te. Como sempre…Vais desejar o amanhã, quando a ferida no joelho estiver melhor, e vais caminhar, para outro amanhã. Como sempre…E olhar para trás, ver o Ontem. Até parece bom, já passou. Como sempre…E amanhã? Será…Como sempre…amanhã.

terça-feira, novembro 04, 2008

Mundo estranho....mundo cinzento

Em memória de alguém cinzento e da filha dele que há-de conhecer um mundo melhor que o pai

Andamos todos cegos? Será? Que mundo é este onde só vêem o preto e o branco? Não discuto que haja bom e mau, mas será que não vêem que toda gente comete erros? Que somos muitas vezes arrastados sem dar conta, para uma vida que nem sempre é a mais certa? E depois somos julgados por viver num mundo de merda que nos obriga a fazer coisas horríveis para sobreviver…não é justo. Vivemos esta vida porque há quem feche os olhos ao mundo, que não veja que o mundo mudou, que há cinzentos e quem sabe tonalidades ainda mais estranhas e confusas.
São os tipos que estão em casa, que ainda vivem a animação dos anos 60, a ressaca da revolução, a fútil ideia de que mudaram o mundo, que viviam mal mas agora tudo está bem, que só está bem quem é estúpido e faz más escolhas. Classe média, soldados brancos, que vestiram a farda da fé no socialismo e neste país liderado por tolos, que julgam agora, justo e livre, e não vêem a podridão que eu, e muitos outros, vêem. Deixaram os sonhos e as frases de protesto em nome de uma vida que a sociedade e os media lhes disseram que era boa, vivem por moldes pseudo católicos de quem não vai a missa e ignora Deus o ano inteiro menos quando precisa, que ignora o protesto a menos que lhes doa o cotovelo. São pessoas que julgam os outros pelas más escolhas sem verem o caminho que estes percorreram e facadas que levaram, o buraco onde foram enterrados. São as pessoas para as quais um toxicodependente está a arrumar carros e a roubar velhinhas, dá xutos nos becos o dorme no chão. São esses cegos, que ignoram a frieza do mundo que eles alimentam, que fazem uma coisa que odeiam só porque ter um telemóvel giro é um ideal de vida como outro qualquer. São os que se intitulam pessoas normais, comuns. São esses que julgam um tipo que tem uma filha e morre com uma facada porque andava sempre metido em confusão, vive nos subúrbios e as suas escolhas não foram as certas: porque toda a gente pode escolher a vida que tem! Errado! Não pode. A liberdade é vaga, e só podemos escolher o que nos dão á escolha. Não são estes os humanos normais que cometem erros, são por vezes iguistas, tristes, mas amam e sofrem como outro qualquer, são estes que cabem no cinzento, e muitos chamam de más companhias?! São estes que têm um sentimento de grupo, e de amizade incondicional por alguém só porque sentem que já passaram pelo mesmo, estão na sombra do cinzento, que muitos chamam de submundo!? É ridículo…
Essa gente que acredita religiosamente no discurso de fachada da televisão, essa gente cega que não vê que drogados são também aqueles viciados em calmantes, e que a cocaína não faz drogados que se arrastam na rua, que uma má escolha não significa sermos maus, que estar no fundo não significa que nos tenhamos atirado para lá, podem ter nos empurrado. Acreditam no poder mesmo quando este os tenta cortar as asas de todas as formas e feitios, são estes que falam “em pessoas normais” e gente “fora da lei” ou “más companhias”, são estes que comparam a Lisboa dos anos 70 e 80 á Lisboa de hoje, que pensam que os subúrbios não são uma selva porque vieram para cá mais velhos e os usam como dormitórios, que os problemas de agora são iguais ao passado, caros, uma novidade, o mundo mudou, e não pára, e melhor, de cada vez que se resolve um problema surge outro, de cada vez que se descobre uma coisa boa, surge alguma má, porque ninguém é perfeito e porque há, de facto, coisas ruins na vida que não podemos ignorar e passar ao lado. São estes que vêem os morangos com açúcar e acham que aquilo retrata os problemas dos jovens, que vêem o telejornal e acham que a onda de crimes é de hoje e que a polícia faz tudo o pode. São esses que vão votar assiduamente porque acham que é o melhor que podem fazer pelo país.
Essa gente divide o mundo em bons e maus, preto no branco, e então os cinzentos? Classe média que faz parte da maioria que fecha os olhos ao pedinte, se enoja com o coroxo e cumprimenta o Sr. Dr. Com muito respeito, sem sequer notar que ele vem a fungar da casa de banho e com pozinhos brancos no nariz…Que acham que é porreiro e normal se um medico os enche de drogas mas acham mal se o adolescente fumar uma ganza, que acham mal que uma mulher se apaixone por outra, mas que o senhor de família ter uma amante é saudável, criticam todo sem dó nem piedade, que o outro é drogado e aquele é uma puta, e fecham os olhos ao que se passa nas suas casas e com eles próprios. Ignorar é o lema, ignora que passa, há-de passa se Deus quiser…
Cegos, todos os cegos voluntários, fizeram este mundo de farsa e têm fé nele. A janela para o mundo real não é o meu apartamento T3 no Seixal e uma televisão ligada no telejornal: só se vê mundo com os nossos olhos, só podemos conhecer as coisas quando lhes tocamos, só podemos conhecer as pessoas com o coração e só se pode ajudar alguém quando lhe estendemos a mão.
Temos que mudar para o mundo mudar também.
É difícil, eu sei

segunda-feira, outubro 20, 2008

Porque sim

Hoje decidi que, em conformidade com a ultima coisa que postei, que como espécime comum humano, não consigo manter nada por muito tempo, porque até boas ideias para escrever, mas, e paciência? Disseram me que podia perder as ideias na minha cabeça, e é uma verdade, não que eu as perca, mas, vão ficando esquecidas num papel, quando as podia partilhar, mesmo que aqui não escreva a nú aquilo que penso, porque é um local público, mas, pode se dizer muita coisa, porque por mais temporárias que as palavras sejam, valem sempre qualquer coisa, quanto mais não seja o pensamento do qual elas nasceram. Assim vou divagar na manteiga, como se faz naquelas conversas muito intelectuais, que nós, universitários, temos na esplanada, como burguesinhos diletantes, que perdem o tempo, como eu, com grandes ideias que vão mudar o mundo, não sabemos muito bem de quem nem como, mas vão, porque somo poderosos ali naquelas cadeiras, sem fazer nada, porque temos aquele tempo para pensar nessas coisas, que, eventualmente alguém com força de vontade há de fazer algo, alguém, porque estamos sempre á espera de alguém, que por de trás daquelas brumas, depois de uma grande viagem...


A Viagem

A palavra viagem. Parece nos fútil, lembra nos férias, borga, uma infinidade de coisas. Mas para quem vê a vida como uma viagem, ou quem leva a vida como uma viagem, é uma palavra forte, que exprime a experiencia, o estranho que é passarmos sempre de uma lado para outro, não as fronteiras, somos nós que precisamos de ares diferentes. Não é um drama, nem uma má escolha de vida. Pode ser um ponto de vista, um ponto de vista que é sempre diferente.
Há quem não sinta aquela falta de assentar raízes. Onde é a minha casa? No mundo. A minha casa é aqui e agora, o meu irmão é este que esta nesta batalha comigo, e aquele que lutou ao meu lado na outra guerra, e todos aqueles que ficaram pelo caminho. Onde eu quero estar? Ali, noutro lado qualquer, mas quando me vou embora, foi mais um pouco que deixei para trás. O mundo é nosso, e mais importante, nós somos do mundo.
A viagem, essa eterna viagem, em busca de algo que nunca compreendemos muito bem, daquilo que não conhecemos e desejamos ardentemente conhecer, numa sede de adrenalina, porque deixamos tudo para trás, sem pensar duas vezes, atiramo nos de cabeça, e mesmo que ela bata no chão, e bate muitas vezes, limpamo nos e continuamos, á carga. Vendemos até a alma na procura incessante de algo que se pareça com um objectivo, quando no fundo, o que nos puxa é um horizonte longínquo de insatisfação porque sabemos que nunca nos vamos encontrar naquele sitio, que apenas retalhamos o corpo e o espírito nessa disputa com o destino só para entendermos a essência da vida, da viagem. Estou bem em todo lado, mas procuro sempre mais, será da rotina? A realidade é que não podemos fugir dela mesmo, mas escapamos dela, e sempre que conseguimos, uuaaaaaaaaaah, parece que foi dessa, mas aí torna se outra rotina, e fugimos outra vez. Queremos viajar, mudar de casa, pessoas, cheiros, mas o nosso cheiro é sempre o mesmo.
Não sei se é a viagem mesmo, se somos nós que queremos voar mesmo sem asas, mas queremos, e o desejo tem força. Por isso, tudo nos custa na vida, até quem não cria raízes cria paixões, mesmo que queiramos fugir delas, e é nessas alturas que nos sentimos mais nós, porque eu sei que vou voltar lá, nem que seja em pensamento, porque a minha vida é uma viagem, que faço sosinha e acompanhada, e porque se cruza nos caminhos de tantos que lutam comigo, que não são capazes de deixar de lutar contra ás malhas que os deuses tecem, mas que sabem jogar com elas, somos um nó, Um grande nó, incompreensível, que não espera ser desfeito, mas sim que aumente, porque o caos é necessário ao mundo, mesmo que o mundo não o compreenda. Somo as tentativas falhadas que um dia resultam, os alucinados que ás vezes acertam, os loucos que nem num psiquiatra se encontram porque são lúcidos, gentes que não se compreendem entre si, viajantes do mundo que anseiam pelas experiencias novas, e que eventualmente descobrem algo, não interessa o quê, mas eu tenho fé que descubram, e eu também.
Aos viajantes da vida e a uma muito especial.

É pura divagação ou loucura, mas são palavras que me fogem das mãos. E apeteceu me escrever, ponto.