quarta-feira, março 22, 2006

PRIMAVERA

A tua voz na primavera

Manto de seda azul, o céu reflecte
Quanta alegria na minha alma vai!
Tenho os meus lábios húmidos: tomai
A flor e o mel que a vida nos promete!

Sinfonia de luz meu corpo não repete
O ritmo e a cor dum mesmo beijo... olhai!
Iguala o sol que sempre às ondas cai,
Sem que a visão dos poentes se complete!

Meus pequeninos seios cor-de-rosa,
Se os roça ou prende a tua mão nervosa,
Têm a firmeza elástica dos gamos...

Para os teus beijos, sensual, flori!
E amendoeira em flor, só ofereço os ramos,
Só me exalto e sou linda para ti!


Florbela Espanca


Ah a Primavera! ;) Adoro!

P.S.: Esta coisa não deu para pôr uma imagem, colorida como pede a ocasião, diga-se alegre esta época, as flores, as borboletas, blá, blá, blá, as árvores, os passarinhos (sem gripe) a cantar, piu piu e tal, assim, sem a imagem, só com o poema nem parece Primavera, pelo menos não parace "a passagem importante para a Primavera", lá se vai o frio e escuro Inverno e floresce a Primavera alegre e contente e colorida, onde tudo recomeça num novo ciclo até ás secas do Verão...Enfim para um post scriptum já parece conversa a mais, mas é Primavera!

E porque ontem foi o dia da POESIA

Erros meus, má fortuna, amor ardente

Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que pera mim bastava amor somente.

Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.

Errei todo o discurso de meus anos;
Dei causa [a] que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.

De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Génio de vinganças!

Luís de Camões


*

Minha culpa Sei lá!

Sei lá! Eu sei lá bem
Quem sou? Um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo... um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém

Como a sorte: hoje aqui, depois além!
Sei lá quem sou? Sei lá! Sou a roupagem
De um doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...

Sou um verme que um dia quis ser astro...
Uma estátua truncada de alabastro..
Uma chaga sangrenta do Senhor...

Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de maldades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador...

Florbela Espanca

*

O que me dói não é

O que me dói não é
O que há no coração
Mas essas coisas lindas
Que nunca existirão...

São as formas sem forma
Que passam sem que a dor
As possa conhecer
Ou as sonhar o amor.

São como se a tristeza
Fosse árvore e, uma a uma,
Caíssem suas folhas
Entre o vestígio e a bruma.

Fernando Pessoa, 5-9-1933



Importuna Razão, não me persigas

Importuna Razão, não me persigas;
Cesse a ríspida voz que em vão murmura;
Se a lei de Amor, se a força da ternura
Nem domas, nem contrastas, nem mitigas;

Se acusas os mortais, e os não abrigas,
Se (conhecendo o mal) não dás a cura,
Deixa-me apreciar minha loucura,
Importuna Razão, não me persigas.

É teu fim, teu projecto encher de pejo
Esta alma, frágil vítima daquela
Que, injusta e vária, noutros laços vejo.

Queres que fuja de Marília bela,
Que a maldiga, a desdenhe; e o meu desejo
É carpir, delirar, morrer por ela.

Bocage

*

Liberdade

Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.

Sophia de Mello Breyner Andresen


**
**

O barulho ensurdecedor
Mostra-me o silêncio,
Essa sagrada condição,
Nesta Vida de contradição…
Ah! O Silêncio!
Apagas-me a dor…
Deixas-me pensar,
Mostras-me o mar
E o eterno luar,
O mar que é os meus pensamentos,
Nos momentos…
O silêncio, o luar…
E o mar…
Enfim repousar…

*12/01/06

E porque temos e tivemos grandes poetas...e porque poesia pode ser em qualquer dia.

terça-feira, março 07, 2006

Hipócrita

Often reflect on what I know I am,
I try so hard to be the least I can,
easy to admit, hard to change the way I am
so far from my ideals of a perfect man.

So far what I have seen has not pleased me well,
so far what I have been has not made me well,
so far what I have said,
it was not said well so well,
have I survived, well.

I've been so,
I've been so sorry,
I am so,
I am so sorry,
and i'll be so sorry.
King hipocrit inm my own life.

My biggest consolation is that you are far worse,
you do not even admit,
you do not accept the curse,
that it is to be a liar and a two-faced jerk,
you do not not speak for yourself, ´
you do not speak your own words.

Como podes te entregar?
Sabendo que nem foste tu o incapacitado de pensar,
de criar,
uma nova doutrina para o resto idealizar,
outro dogma,
outra ideologia que é fraca para criar,
procriar outro conjunto de iguais para fazer como tu fazes,
como te ensinaram a pensar,
e aceitar,
sem tentar compreender,
sem ver que não é bem assim,
que tu não podes viver bem assim,
hipócrita!

Primitive Reason