domingo, janeiro 14, 2007

Escrevo...

Vou me perder pelo labirinto das palavras, tenho que continuar a escrever, quero. Muito. Andar por ai ver as coisas, imagino uma história cheia de personagens tipo, cada vez que ando na rua. Cheiros diferentes, pessoas, muitas pessoas, movintos, vozes, pequenas frases que vamos apanhando. Aprendi, ou melhor, comecei a dar valor, a esta capacidade de observar, nas pequenas 2 semanas em que andei no curso de Antropologia, esta gente fez me ver a beleza da observação. E que lindo sitio é Lisboa para este exercicio, dá me vontade de escrever. Conseguimos mentalmente traçar um perfil de personagens, vidas que passam por nós e nem damos conta. Como será a vida do tipo engravatado e com dores de estomago que se senta á minha frente no comboio? Como foi a história do mendigo que ontem dormia debaixo da soleira dp predio ao pé da minha escola? Onde andará ele agora? E aquela pequena? Porque chora ela, será que a mãe não lhe oferece aquela linda boneca de cabelos doirados? E o moço que trabalha na caixa registradora do bar da escola? Êxodo rural com certeza, talvez venha do Alentejo... Podemos imaginar estas histórias, mas nunca saberemos a verdade, mas provavelmente a contar histórias hipotéticas toquemos no coração de alguém. Talvez, de certeza, quando contamos histórias transferimos coisas que vimos e sentimos, como a minha amiga a dançar energeticamente com a saia rodada ao som de "boys don't cry", ou talvez as lágrimas da minha prima quando a gata ficou doente, talvez os gritos que eu dei quando me irritei por se meterem onde não chamados, talvez a ânsia e o medo que eu ia sentindo por falhar um objectivo, ou raiva que tive quando não o alcancei. Talvez a vergonha que vi alguém sentir ao ser apanhado, a compaixão de alguém com aspecto bruto e voz grossa...Talvez as serras montanhosas com ruinas no alto que vi na terra, ou o burburinho de uma noite no bairro alto dêem me o perfeito cenário para uma história. Talvez uma voz muito romântica ou uma voz agressiva, ou cheiro das flores do cemitério que me dão vomitos, ou cheiro as flores silvestres, bem vivas, nos campos me recordem uma história que tinha inventado há muito. Quando contamos uma história é a nossa vida, e todos, que transferimos para o papel, compilamos experiências, talvez sejam coisas inventadas que nunca vimos, e por isso imaginamo-las. São as letras que tomam conta de nós, quando acabo de escrever, e leio, tomo consciência, que aquilo que queria escrever ganhou vida, e percorreu um caminho completamente diferente daquele que eu queria, como muitas vezes na vida acontece. E foi isso que aconteceu. Sentei me aqui, pensei, "vou escrever" vou escrever sobre aquilo que tenho visto em Lisboa, as sensações e pulsações da mais...nem tenho uma palavra que qualifique Lisboa como eu a vejo. E quando acabei, as palavras tomaram conta de mim, e o que eu escrevi? Não, eu fui apenas um objecto que ajudou as palavras a ganharem vida, tomaram conta de mim, e eu deixo. E vou continuar a deixar. Porque apesar de ser eu a escrever, não sou. Apesar de estar completamente exposta no texto, as palavras têem uma vida que eu não posso tentar controlar, nem quero, apenas posso escrever, dar lhes vida.
Sigam impulsos por mais que digam que é feio, é artistico, e muito boa a sensação, sigam os chamamentos, sigam o vosso coração...E é melhor calar me porque não quero estragar a minha reputação de besta.
Até logo.

1 comentário:

José Borges disse...

Genial! Sinto-me preenchido com as tua palavras. Andas a ler Cesário Verde? "Sentimentos de um Ocidental".

Lisboa é realmente uma cidade fabulosa. O metro é a "galeria dos horrores" ou o nosso museu Madame Tussaud ao vivo!
Sabes que quando nos deixamos tomar pelas palavras escrevemos coisas que de outra maneira nunca escreveriamos. Estranhamente também me acontece sentir-me arrebatado pelas palavras que saem de mim. Infelizmente (ou não) tenho sentido algum pudor em "me publicar".

Estou deveras fascinado com o teu texto e as tua publicações recentes! Uau!