segunda-feira, abril 24, 2006

24 de abril

Amanhã é dia 25. 25 de Abril. Outra vez.

Hoje é o dia que antecede a Revolução. Mas irá ela ser uma verdadeira revolução?Um dia mais tarde será que alguém se irá recordar do que se vai passar amanhã? Talvez nem se lembrem do dia e das causam que nos movem, talvez nunca tremam ao ouvir pernunciar a palavra Salazar ou PIDE, talvez nunca venham a saber que houve uma revolução, talvez nunca venham a conhecer os nomes dos que morreram pela liberdade...Tenho medo que algo corra mal, queremos fazê-lo de modo pacifico, mas não sei se será possivel. Tenho medo. Era bom que as armas disparassem flores em vez de balas...E se corre mal? O mais certo é os homens do regime matarem nos a todos por trairmos a patria.
Estou aqui sentada no banco de jardim e parece que todos me observam, se até por pensar me chamam pecadora nem viver posso. Tem que correr bem amanhã, deposito todas as minhas esperanças no dia de amanhã. Hoje, hoje a noite vai ser longa, nem sei se vou conseguir dormir, vai ser terrivel a ansiedade, só de pensar que apartir de amanhã possivelmente poderei respirar livremente...Mas tenho medo, se corre mal? Sim, não pensem que são herois os que lutam contra o regime, são homens e mulheres com medos e ansiedades, com certezas e duvidas. Ali no canto está um homem com aspecto suspeito, será que me conheceu ou me achou suspeita?Se alguma vez lessem aquilo que escrevo deitaria tudo a perder. O melhor é voltar para casa, tentar descansar, amanhã será o dia. É amanhã. Até amanhã camaradas. Até amanhã filhos da Revolução.

Maria
24 de Abril de 1974

(texto ficticio, escrito por mim, baseado naquilo que já li e ouvi sobre o 25 de Abril)

1 comentário:

Nuno Perestrelo disse...

muito bom o texto. gostei imenso.